sexta-feira, 31 de maio de 2013
Torniquete
saltam os olhos da face cúbica
e rígida
lentes de uma velha Kapsa
os olhos de meu pai
os olhos de meu avô
olhos em preto&branco
viram um mundo todo deles
guardado na câmara escura
revirados rebatidos registrados
para um sempre
-- tão efêmero e ao mesmo
tempo tão eterno --
numa fotografia feito lembrança:
nó na garganta,
saudade crua de um negativo.
domingo, 26 de maio de 2013
do silêncio
o meu silêncio
é o espaço entre a frase incompleta
e o grito contido
o meu silêncio
é emocional e sem razão
e ao mesmo tempo
é sua razão de ser
o meu silêncio
não cala por dentro
nem fala o que espero,
é crítico -- quando não, cínico
o meu silêncio
diz respeito à angústia
e nem por isso se rompe
o meu silêncio não é para sempre
o meu silêncio não é fático
o meu silêncio é regra
o meu silêncio
tem a vastidão do desespero
e a pequenez dos homens
depois do meu silêncio
só há reticências
quarta-feira, 22 de maio de 2013
Do monstro e da noite
Assombro.
Tremo diante da injustiça.
Rechaço o medo.
Sal grosso.
Figa de jacarandá.
Vela de sete dias.
Ferradura sobre a porta.
Trevo de quatro folhas.
Chá de melissa para acalmar.
Buda Krishna Cristo Moisés Kardec.
Santos e Nossas Senhoras.
Corujas. Águias. Leões.
Anjos e arcanjos em legiões.
Dentes de leite.
Pé de coelho.
Réstia de alho.
Cebola cortada.
Fé cega, faca amolada.
Pena de pombo.
Fita do Bonfim.
Borboleta azul.
Olho grego.
Mandalas.
Incensários acesos.
Estrela de Davi.
Sóis e luas.
Pirâmides. Pedras. Seixos.
Cartas do Tarot.
Baralho egípcio.
Xamãs.
Defumo a sala e
lavo a alma.
Não tremo.
Nem temo.
O medo vai.
A noite vem.
É cedo. É cedo...
Da vida
Traz e leva
Leva e traz
Que vida é essa?
adjetiva
caótica canhota canhestra calhorda catastrófica
imprecisa
crítica crônica crápula cáustica cética
desproporcional
cólica católica cartográfica colimada culpada
paroxítona
criativa companheira cativante cooperativa certeira
Leva e traz
Traz e leva
Essa vida...
... que vida é essa?
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Milton Fornasaro
A notícia triste vem pela internet: alguém leu na Folha de S. Paulo e replicou aos amigos a morte de Milton Fornasaro. Engenheiro apaixonado pela carreira e pelo trabalho, Miltão era imagem da dedicação e de caráter.
Eu, velhinho ou seminovo, estou prestes a completar 35 anos "de carteira". Fornasaro foi meu primeiro chefe. Lembro dele chegando no seu opalão verde nas vias internas do pátio da Light no Cambuci, mais precisamente na rua do Lavapés, 463.
Miltão sempre foi um bom homem. Justo, correto, palmeirense. Um abnegado. Seu nome batizou uma subestação de energia elétrica - homenagem pequena diante de sua grandeza humana.
Sua voz hoje me vem à lembrança, com um dos bordões que há décadas repetimos: É, Jorge, o Palmeiras não tem jeito mesmo...
Respondo com o coração: É, doutor Milton... Nem o Palmeiras, nem a vida.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Sufocos
O que sufoca não é
segunda-feira
São anos
O que afoga não é profundo
São poças
O que me assola não são
tragédias
São ações
O que me cala não é censura
São silêncios
O que me abala não são
tremores
São amores
O que me ata não são laços
São parcelas
O que me mata não é morte
São pontos finais
O que me atinge não são
balaços
São saudades
O que me solta não são
sentenças
É liberdade.
sábado, 11 de maio de 2013
Cicatriz
Profilaxia. Curativo d'alma.
Peça que falta no quebra-cabeças.
Tontura. Singular.
Sutil tortura. A pedra angular da tua perda.
Auto-crítica.
Labirinto. Espasmo. Sutura.
A alta costura da tua pele rompida.
Tatuagem. Amor eterno amor.
Um samba-canção. Um bolero. Uma guarânia.
Decalque. A razão das letras cravadas a nanquim.
Carrego nas tintas.
A música que mora na pauta morre em mim.
Por um triz.
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Nóia
Flores de cimento cimentam sonhos em pó
Gelatinas verdes ou águas lodosas?
Uma tristeza verde, concreta.
Pedras, pecados.
Miçangas alinhavadas por fios e desejos.
Invenções. Descobertas. Teses. Teoremas.
Formas refratárias: pyrex.
Gumex nos cabelos.
Pirados. Amores platônicos. Antidistônicos.
Paranoias S/A.
Nada além.
sábado, 4 de maio de 2013
de papel
Onde estão os espelhos?
Mira, o olho esquerdo é o direito.
Onde estão os feridos?
Há uma guerra sem mortos nem justos.
Onde estão os papéis?
Na gaveta, envelopes atropelam rascunhos.
Onde estão os heróis?
Morreram, uns de tédio outros de rir.
Onde foram parar delírios desejos destinos
e demais demônios?
Em dobraduras de papel.
Origamis de lembranças.
Universal
a noite me invade
atiça excita provoca mexe
e remexe
a madrugada invade
meu corpo
sonho espaço
cidade
de anjos e deuses
do Bem e do Mal
demônios e arcanjos do prazer
escapam do meu ser
(ou não ser?)
pelas vias primárias
secundárias e terciárias
festejo desejo ensejo
te vejo -- como sempre te via --
e escrevo um poema nostálgico:
haja aspirinas para tanta dor.
Não faço amor. Não amo.
Apenas conto histórias em versos.
Meu limite.
Meu universo.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Com licença
Minha poesia, de folga
Minha cabeça foi junto
-- ou seria o contrário?
Tomamos banho de água fria,
gelada -- para ser preciso --
numa cachoeira chorona.
Rasgamos o mato em trilhas,
bebemos um livro,
tomamos um vinho.
Minha poesia preveniu infartar.
Minha cabeça, enrijecer.
Eu, empedrar -- além das pedras
que constróem muros.
Minha poesia, de araque.
Minha cabeça, arabesque.
Ou seria o contrário?...
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